(publicado originalmente no Superela)
A série do Netflix lançada no início do mês está causando polêmica entre a crítica francesa. Apesar de ter ganhado instantaneamente o coração das brasileiras e americanas e estar entre as mais vistas do mês no Brasil e nos Estados Unidos, a recepção do público francês não foi tão calorosa. Aliás, deixou a maioria irada! A crítica dos maiores jornais franceses reprovou fortemente a nova produção da Netflix, chamando a série de “deplorável e embaraçosa”.
Isso porque Emily in Paris, apesar de bem produzida e divertidíssima, pecou no excesso de clichês ao se referir aos moradores e ao estilo de vida da capital francesa, retratando-os como eternos fumantes, sem pudores, preguiçosos, atrasados e com um je ne se quois sexual – o que, apesar de terem seu fundo de verdade, acabam simplificando demais as diferentes culturas e visões de mundo dos americanos e dos franceses.
O primeiro capítulo se desenrola em estereótipo atrás de estereótipo de forma tão escrachada que eu quase desisti da série. Em apenas vinte minutos, eles já cobriram todos os clichês possíveis que podem existir sobre os franceses!
Mas vamos por partes. Afinal, vale a pena assistir a Emily in Paris?
Vale, se você ama Paris. Se você curte moda. Se você é fã de Lily Collins, filha do eterno Phil Collins, e suas charmosas sobrancelhas. Se você quer assistir uma bobagem gostosa e descontraída no fim do dia, que não vai te tirar da zona de conforto e nem te sobressaltar demais. Não espere grandes lições nem insights incríveis. Não espere uma grande obra prima que quebre paradigmas e que te faça questionar a vida ou suas escolhas. Imagine apenas uma comédia romântica simples, razoavelmente bem construída e abarrotada de clichês – não apenas culturais, mas também de estrutura de roteiro. Um conto de fadas contemporâneo, com atores bonitos desfilando em trajes incríveis pela capital francesa.
Imaginou?
É isso o que você verá – e tendo em vista o sucesso da série, talvez seja exatamente isso o que as pessoas estejam precisando nesse momento de quase um ano dessa pandemia que tirou a população do eixo e deixou todo mundo abalado (para dizer o mínimo). Apenas um respiro no fim do dia, tranquilo, sem grandes surpresas, mas que te faça sorrir.
Mas sobre o que é a série?
Emily Cooper é uma jovem publicitária (divertida, descolada, um tanto desajeitada, com um senso fashionista aflorado e uma sorte de ouro) que por acaso é transferida para trabalhar numa empresa de marketing em Paris. Ela chega lá sem falar uma palavra de francês e, conforme vai descobrindo o seu novo e delicioso cotidiano na capital francesa, tenta se estabelecer como moradora local. Ao longo dos episódios, podemos acompanhar as confusões profissionais e amorosas em que protagonista se enrosca enquanto suspiramos pela fotografia da cidade luz no pano de fundo.
E as confusões não são poucas. Ela vai precisar encontrar um meio de ser aceita pelos seus novos colegas de trabalho, que fecham o cerco contra a novata americana, enquanto tenta aprender a se comunicar na nova língua, faz amigas inesperadas e conhece um lindo mocinho capaz de fazer as espectadoras suspirarem – mas que, óbvio, tem um porém.
É inegável que os clichês vêm aos montes, que a série é bastante previsível, e que Paris e os franceses são retratados por uma ótica completamente hollywoodiana.
Mas ainda assim, há grandes chances de a série ganhar o seu coração. Pense nela como um respiro no final do dia, principalmente em épocas de pandemia e exaustão mental e psicológica. Um conto de fadas contemporâneo para fazer você se sentir bem depois de um dia cheio.